domingo, 25 de dezembro de 2011
Conto de Natal.
Um dia, o marido enlouqueceu. Da cama já não sai. A mente há muito que se foi embora. O Natal, para ela, perdeu ainda mais piada. Mas pensou, pelo menos tenho as minhas filhas, de certeza que me vêm cá consolar.
Um dia, a sogra de uma das filhas adoeceu. Ela não pôde aparecer. A outra filha fez questão de aparecer quando não estivesse lá mais ninguém, durante alguns minutos. A filha que resta esteve o tempo necessário até ter que ir preparar o seu próprio jantar de Natal.
E para a velha, restou-lhe a companhia das lágrimas. Perguntaram-lhe então nesse dia, avó, não queres que venham cá no Natal? Não, não posso, olha para isto, com este quadro tão triste.
Um dia, o Natal fora o dia em que a velha ficava com a família em casa e era feliz. Hoje, é só mais um dia para implorar pelo fim. E ele tarda em chegar.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Negrume.
Terei ficado cego? Não, não existe nada para eu ver. Terei ficado sem olhos? Não, eles apenas não acham nada para ver. Se calhar são as ligações nervosas. Também não. Não existe nada que possa descodificar, porque não existe nada. E eu?
Se falo sobre isso e penso sobre isso e escrevo sobre isso, logo existo. Mas estou sozinho? Certamente que não. Então o problema é mais negro do que eu julgava.
Procurei dentro de mim. Vi a existência que conhecia, desde sempre, a esconder-se, a saltar precipícios metafóricos, a cortar pulsos inexistentes, a enforcar pescoços literários. E eu?
Eu continuei a ver. Medo? Não, o medo não me aflige. Apenas me sinto deslocado disso. Da dor que causa ver a minha base existencial a desaparecer. A desaparecer no negrume em que se tornou o meu conhecimento.
21 anos. Quase 22. Aprendi, vivi, amei, confiei. Hoje, todos os que me rodeiam põem em questão a minha bagagem. Terei aprendido? Vivido? Amado? Confiado? Sim. Os outros, não sei.
Pai. Pai. Pai. Pai. Pai. Pai. Só tem 3 letras. Mas causa tanta insegurança. Mãe. Mãe. Mãe. Mãe. Só tem 3 letras. E eu não sei o que fazer com elas.
Eu. Já não sei o que sou. Sei que estou triste. Percebo que quero fugir. Mas as palavras já não são o caminho suficiente. Preciso dos vossos braços para chorar.
Mas vocês não os têm disponíveis. Não por não os esticarem, mas porque entendi finalmente o negro. Longe de vocês, vejo tudo.
Só não consigo ver perto de vocês. Vocês amam-me. E eu também. Mas não vos consigo identificar o suficiente para vos dizer e mostrar.
domingo, 11 de dezembro de 2011
Velho - a dissertação.
Ela própria mo disse.
Mas não era necessário,
Eu já o tinha percebido.
As rugas são mais que muitas.
Mas não é a pior.
A minha avó está velha.
As lágrimas secaram,
Agora só existem rastos
Debaixo dos olhos, um pelo
Neto perdido, outro pelo
Marido enlouquecido.
O meu pai também está velho.
Foge da casa que o envelhece.
O carro dá-lhe mais juventude
Que uma mulher velha apaixonada,
Uma filha descrente nele
Ou um filho emocionalmente mudo.
Eu também me sinto velho.
Sinto a farsa do bem-estar
A cair de podre, aos pedaços.
Sinto a alegria a secar, como uma
Passa, a tornar-se em cansaço.
E no entanto escrevo.
Estas palavras são velhas?
Será a estrutura velha?
Não sei, os olhos ainda
Estão muito jovens, tornando
Impossível reconhecer a velhice.
Mas fecho-os, de qualquer forma.
Há coisas que devem ser feitas assim.
Instintivamente, sem pensar muito.
Dar largas ao coração e às palavras
Que se escondem lá. O cérebro tem muitas
E bem mais complexas, mas são chatas.
Envelhecem mais depressa.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Escrita normal.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Misturas.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Estou mesmo muito cansado.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Para o meu amigo Coelho, muito amor.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Dia dos finados.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Amar-te é isto.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Marco Aurélio Galvão Teixeira.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Nem tudo o que parece vem de Abu Dhabi.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Jesus caminha connosco.
sábado, 15 de outubro de 2011
A minha alternativa.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Quem quer viver para sempre?
sábado, 1 de outubro de 2011
Culto da personalidade.
sábado, 27 de agosto de 2011
Fatalistas da tasca da esquina.
Sinto a tua falta.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Fuga.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Na câmara do rei da montanha.
Impávido às desgraças
Daquelas pequenas traças
Que esvoaçam histéricas
Debaixo do seu olhar soturno
Está o rei nocturno,
Envolto na escuridão
Do seu pensamento,
Desprovido de sentimento
E desconhecedor de alma.
Para ele, humanizar
É como desventrar,
E no seu interior
Não cabem órgãos.
Todos os que, sãos
De corpo e de espírito,
Se negam a reconhecer
A maldade no seu entardecer
Mais tarde ou mais cedo
Se vêm isolados,
Na escuridão enforcados
Pelas manhas do rei nocturno.
Na sua montanha luz
É algo que não se produz,
Mas os receosos que,
Ignorantes ou loucos,
Fazem ouvidos moucos
À precaução e tentam
Vencê-lo com armas,
Ódio e karmas
São imediatamente corrompidos,
Tornados insectos escuros,
Grotescos e impuros.
Apesar de tudo,
O rei nocturno
Olha, taciturno,
Para o horizonte.
Sabe que o seu poder
Pode, enfim, desaparecer,
Assim que a alvorada se der,
O Sol à vida regressar
E com luz purificar
Todos os corações
Que como uma tela,
Ficaram com uma mistela
Negra, não por fraqueza,
Mas por obediência
À maldade da sapiência.
(Edvard Grieg, In the hall of the mountain king)
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Carrossel.
sábado, 21 de maio de 2011
O quadrado.
sábado, 14 de maio de 2011
Se o sou, é graças a ti.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Monstro.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Graça.
terça-feira, 5 de abril de 2011
Reflexo imperfeito.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Dinamite.
segunda-feira, 28 de março de 2011
Repost #1 - Ai os putos
Numa cela poeirenta, suja e descriminada pelos que lá passaram está presa de livre vontade a infância no meu ser. Guardada, apenas liberta por alguns momentos, mas com bastantes restrições, pois é ilegal na idade dela andar à solta. Por muito que a acesse, não é o mesmo. O tempo mudou-a. Dantes, fazia parte do meu dia-a-dia,com aquela simplicidade aterradora que tornava os meus dias complicados simples como uma conta de somar. Aquela facilidade de conhecimento, com que partia à aventura do desconhecido, sem medo do que poderia encontrar no outro lado, quando encarasse o desafio de conhecer alguém novo. Aquela sinceridade automática, como se o meu corpo estivesse programado para dizer a verdade como num impulso, cada vez que pensasse na aldrabice. Agora, é tudo fragmentos de um cenário substituível, peças de um puzzle desmontado após ter sido terminado ou cristais de um copo quebrado. Estão cá, mas já não são o meu modus operandi. Já não são a regra, mas a excepção. E isso, isso faz o meu coração apertar cada vez que visito essa cela. Pois todos os dias vejo memórias dela, espalhadas por todo o lado, como se de uma caça ao tesouro se tratasse. Ora são imagens dela, colorida, barulhenta e sem preocupações, abraçando-me como se mais nada no mundo existisse, ou vídeos dela correndo, saltando, apertando a minha mão e ajudando-me a percorrer o caminho que ela tão alegremente percorria, ou até mesmo documentos dela, tremidos, despreocupados e simplistas, como as cartas que ela me deixava apregoando a nossa relação tão especial. Mas um dia o tempo acabou para ela. E apesar de relutante, tive que deixá-la prender-se naquela cela, saindo só de vez em quando, quando é permitido ela mostrar-se ao mundo de novo, nem que por uns breves minutos. A minha tristeza, é saber que sei como a libertar, saber que a posso libertar, mas que a relação que tenho agora com o amadurecimento é algo mais satisfatório, que me preenche melhor, que me faz ser quem sou na realidade, impedindo-me, contraditoriamente, de a soltar, pois sei que o melhor para os dois é ela manter-se neste regime de aprisionamento. Embora saiba que o tempo que passei com ela nunca mais será esquecido. Daquelas risadas por tudo e por nada, daquelas brincadeiras tolas, e principalmente daqueles momentos em que, de mãos dadas, percorríamos o caminho que dá para a Vida, esperando que fosse sempre assim. Apesar da saudade, não a libertarei. Somos mais felizes assim. Mas um dia, a minha querida infância libertar-se-á de novo. Provavelmente não me recordarei da última vez que percorri o caminho com ela, nem de quem era dessa vez, mas voltarei a dar-me, e voltaremos a ser felizes os dois juntos. Apesar de amadurecer e envelhecer e morrer e renascer, a infância será sempre uma relação diferente das outras. Sem ela, já me teria perdido há mais tempo. E dou graças por poder visitar a minha infância sempre que posso. E de poder, por instantes, voltar a dar-lhe a mão e correr com ela.
sábado, 26 de março de 2011
Uma frase basta.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Dias de sorte.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Mundo sem caracóis.
segunda-feira, 7 de março de 2011
A luta continua.
quarta-feira, 2 de março de 2011
A primavera é tão linda.
Cegueira.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Médio Oriente.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Vingador.
Sem sentimentos, disfarçando a dor,
Desvia ele o olhar da mãe, com secura,
Ignorando a aura dela, de terror,
Responde-lhe, sem qualquer brandura,
Não te preocupes mãe, eu sou um vingador.
Caminhando pela rua, destemido,
É acompanhado por um leve rumor
Que oferece ao movimento sentido.
Movimento esse, com mais e mais clamor,
Irrompe no fim, com grande alarido,
Vai ali o nosso salvador!
Desembainhando a espada, de punho vermelho,
Aponta a lâmina, com coragem, ao orador,
De madeixas brancas, não diz alho nem bugalho,
Sua de pânico, com as mentiras causando-lhe ardor,
Grita, com a Morte presente no olho,
Apanhem-me depressa este traidor!
O sangue do seu corpo no jardim jorrava,
Nos ouvidos, um ruído silenciador.
Os que sonhavam, diluíram-se como chuva,
Menos uma menina, que com um olhar enternecedor,
Perguntou quem era aquele morto na erva.
Não ligues pequena, é só mais um sofredor.