domingo, 11 de dezembro de 2011

Velho - a dissertação.

A minha mãe está velha.
Ela própria mo disse.
Mas não era necessário,
Eu já o tinha percebido.
As rugas são mais que muitas.
Mas não é a pior.

A minha avó está velha.
As lágrimas secaram,
Agora só existem rastos
Debaixo dos olhos, um pelo
Neto perdido, outro pelo
Marido enlouquecido.

O meu pai também está velho.
Foge da casa que o envelhece.
O carro dá-lhe mais juventude
Que uma mulher velha apaixonada,
Uma filha descrente nele
Ou um filho emocionalmente mudo.

Eu também me sinto velho.
Sinto a farsa do bem-estar
A cair de podre, aos pedaços.
Sinto a alegria a secar, como uma
Passa, a tornar-se em cansaço.
E no entanto escrevo.

Estas palavras são velhas?
Será a estrutura velha?
Não sei, os olhos ainda
Estão muito jovens, tornando
Impossível reconhecer a velhice.
Mas fecho-os, de qualquer forma.

Há coisas que devem ser feitas assim.
Instintivamente, sem pensar muito.
Dar largas ao coração e às palavras
Que se escondem lá. O cérebro tem muitas
E bem mais complexas, mas são chatas.
Envelhecem mais depressa.


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