quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dia dos finados.

No dia 1 de Novembro, estava um dia tristonho. Nada nele mostrava alegria. As cores fugiram para as suas tocas, deixando cá fora o vazio e a solidão visual. Senti algo a cair na minha cabeça. Algo gelado e no entanto a arder de sentimento. Era a tristeza em estado líquido. Naquele parque de estacionamento, no lugar de carros estacionaram corpos. Não estavam mortos, apenas não tinham nada. As bolas de vidro que faziam o lugar de olhos esperavam algo que as fechasse. Andavam como bits num sistema informático. Sem vida, programados, sem erro, sem variação, sem vida.

No meio disso havia os oportunistas. Saídos dos lugarejos de ignorância auto-proposta em que se refugiam, arrecadavam o metal. Estremeciam e resplendiam de forma doentia ao conseguir as moedas de gorjeta. Notei que o único que de verdade trabalhava o ano todo era o que não participava. Os oportunistas não o iriam deixar roubar os trocos. O fumo negro saía da torre branca. Torre que guarda o fim dos outros. Daqueles que já passaram por nós. dos que completaram a corrida e ganham como prémio a incineração. Entretanto, no geral ignorado, caminho eu. Não como um qualquer Messias que anuncia a chegada de Jesus. Apenas um entre a multidão. Mas fora dela, vendo o que se passa. E pese embora a revolta cresça em mim, mantenho-me quieto. Eu não sou nada, logo a minha revolta não é nada.

Não adianta ficar triste por ver seres humanos recordarem os seus entes mortos só num dia específico do calendário. Por fazerem disso um dia de festa. Não adianta ficar irritado por ver pessoas aproveitarem-se para fazer da morte negócio. Por conseguirem facturar bastante com isso. Não adianta ficar frustrado por gritar ao Mundo o que se passa e não me ouvirem por ser pequeno demais. Por ter que aguardar por uma credibilidade que pode não chegar para ouvirem as minhas verdades.

Mas, afinal, quem sou eu para dizer que o que digo é verdade? Um gajo crente demais para acreditar que é a Maldade e o Interesse que comandam a vida, e não o Sonho.


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