quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Amar-te é isto.

Agarro-te a mão
E percorro o Mundo.
Galgo montanhas e vales
Quando me apertas.
És o caminho em frente.

És a minha poção
Da omnisciência sensorial,
Tomo-te e tudo sinto,
Deixam de existir segredos,
Fica tudo fácil para mim.

Curas-me as falhas,
Erradicas-me a sombra.
Iluminas a minha existência
E inventas-lhe o sentido.
Tornas-me puro no teu amor.

No fundo, és tudo o que desejei,
Aquilo que chorei por não ter,
O que julguei não existir.
És o amor da minha vida.
E no entanto és muito mais.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Marco Aurélio Galvão Teixeira.

Sempre te vi longe. Nunca tive coragem de me aproximar de ti e dizer-te o quanto te admirava. Havia um poço enorme entre nós, mas acho que nunca te apercebeste da sua existência. Pudera, para ti o Mundo era um punhado de acontecimentos facilmente decifrados. Para mim, eram espinhos de todos os lados prontos para me magoar. Por isso, quando o poço ficou demasiado fundo para eu conseguir atravessá-lo, tu não te preocupaste. Com o teu sorriso habitual, deixaste-te ir, sabendo o teu lugar em mim. E um dia, quando ganhei coragem para atravessar o poço, tu já estavas nas suas profundezas. Eu já não te podia alcançar. Na verdade, até isso tu me perdoaste. Tanto me perdoas, que ainda hoje a tua memória me protege e sorri para mim. Para me mostrar que tenho de deixar de complicar. Para me mostrar a felicidade. Para descomplicar o Mundo como só tu sabias fazer. Mas só complicas as saudades que tenho da tua existência.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Nem tudo o que parece vem de Abu Dhabi.

A minha vida já não tinha sentido. Não porque não tivesse mais pessoas onde me apoiar, mas porque já tinha cumprido tudo o que havia a cumprir. Podia sentir as rugas no meu ser. Custava-me simplesmente a sonhar. O sonho para mim estava realizado e acabado. O que restava eram migalhas de memórias recalcadas. Por isso para mim chegara a hora. A hora de descobrir o que me aguardava do outro lado. Onde a expectativa e a crença eram as únicas certezas.

Afinal, parece que nada. Tudo isto que eu sentia era um tumor cerebral. Conseguiram eliminá-lo a tempo. Já me sinto jovem de novo. Eu bem estranhei sentir tanta velhice aos 25, mas como nenhum dos meus colegas de sueca estranhava, eu achei natural. O problema vai ser descobrir como funcionar com este corpo jovem. Bem, agora já não preciso de urinar nas calças ou chorar de solidão para que as raparigas me abracem. Talvez aí vá descobrir finalmente o que os meus amigos chamam de "tusa". Espero que seja diferente da dilatação que senti nas virilhas na primeira vez que vi o "Brokeback Mountain".

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Jesus caminha connosco.

Queres afastar-me, deixar-me sozinho.
Queres acabar, pregar-me medinho.
Não falas com um chavalinho,
Não tenho medo de te partir o focinho.
Eu não ando sozinho, tenho alguém
Que não me deixa ser ninguém,
Que me incentiva a fazer o bem
Sem nunca querer olhar a quem.

A tua retórica é coerente,
Mas a tua língua só mente,
O teu coração não sente,
O teu ódio cumprimenta-me de frente.
Receias a minha luz cabrão,
Sabes que ela te manda ao chão,
Sabes que ela encerra a razão,
Sabes que as chamas são a tua punição.

Garantes que Ele não existe e insistes
Que somos ovelhas e só tu permites
A liberdade que só tu transmites,
Mas é tudo falácia sem limites!
Tu ostracizas e aterrorizas,
Levas os mortos ao peito tipo divisas,
Fazes férias nos Mónacos e Ibizas
Á pala dos otários que minimizas!

Se escrevesse sobre o Amor
Ou política, receberia ardor,
Todo o feedback e calor
Associada à minha alegria ou dor.
Mas se falo na necessidade de Deus
Lavar estes pecados meus,
Já pertenço àqueles plebeus,
Mais burro que todos os ateus.

É essa a tua intenção, não é? Palhaço!
Gozas com todos no teu fatinho com laço,
Enquanto te perfumas com um verde maço
De ardores nossos, roubados sem traço.
Mas prefiro andar todo esfarrapado,
Pela sociedade alta e rica odiado,
Com os pés negros de tanto ter sangrado
E com Jesus todos os dias do meu lado.

sábado, 15 de outubro de 2011

A minha alternativa.

- Oi. Oi! Tu, sim tu. Tu que olhas para o horizonte com os olhos turvos. Eu lembro-me de ti! Não eras tu que tinhas aquele imenso talento? Que um dia todos os problemas se solucionariam assim que estalasses os dedos? Eras tu sim! Então? Como vai a vida? Tens conseguido maneira de espalhar a tua magia pelos comuns mortais? Vejo que sim, essa tua face apodrecida e esse corpo ressequido dizem-me que tens conseguido muito sucesso. Fico muito feliz por ti! Imagino que essa pistola seja para disparar uma salva em tua honra! Que bom, conseguires um momento de sossego só para ti. Com a fama que tu deves ter alcançado, aposto que é raro estares assim ao abandono. Bem, gostei de te ver. Espero que continues a mostrar o dom que nasceu contigo. Invejo-to diariamente. E não te preocupes, é normal tremeres tanto de emoção, não é todos os dias que somos os melhores naquilo que fazemos. Mas se calhar era melhor limpares as lágrimas. Alguns podem considerar um acto de sentimentalismo excessivo. Tudo de bom para ti.

"E, ao afastar-se, ouviu um tiro. Os pássaros afastaram-se, o ar recebeu as ondas de choque e eu sorri. Não reparei no jorro de sangue que saía daquela melancia esmagada que outrora fora um crânio humano. Não era essa a minha função de qualquer das formas. Como simplório que sou, apenas passeava, sem nada para fazer depois do meu trabalho comum, 8 horas por dia, 5 dias por semana. De forma simples, fiquei feliz. Ele sempre tivera talento, sempre lho disseram. Mesmo quando vários colegas apareceram com trabalhos bem melhores que os dele, não desistiu e continuou. Mesmo quando esses colegas foram laureados, ele não parou. Mesmo quando lhe recusaram a existência profissional, ele não parou. E agora provavelmente estaria a ensaiar o discurso de vitória. Felizmente vejo tudo de forma simples. Ai de mim complicar tudo como ele. Tenho pena de não ser tão inteligente como ele e prestar atenção a todas as notícias. Gostava de o ver na televisão."

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Quem quer viver para sempre?

Roubas sem pedir, tu. Não escolhes idade, não escolhes local, não escolhes nada. Nem sequer escolhes quem magoas. Não tens capacidade para isso, suponho eu. Para ti, não passa tudo de um jogo. Lanças os dados e a combinação que calhar diz-te onde será o teu próximo assalto.

Não te percebo. Há quem assuma perceber-te e até esperar por ti serenamente. Não acredito nisso. Como é possível querer-se receber em casa, no nosso ambiente familiar, alguém que existe apenas para desconstruir edificações de anos e anos de trabalho emocional? É por isso que o fazes? Por ninguém te querer? É uma conta paga em raiva a que descontas em nós?

Morte, eu odeio-te. Não é a tua existência, mas o que a tua existência cria em mim. Não quero ser egoísta, nem medroso, nem melancólico. Mas os teus roubos deixam-me assim. Se tanto roubas aos outros, porque não experimentas devolver? Fazer o bem, por uma vez na tua vida miserável.

Podes andar atrás de mim o tempo inteiro, podes levar-me quando quiseres, mas pára de roubar-me. Não tenho quem me proteja de ti. Eu imploro-te. Por um segundo, pensa bem antes de me roubar de novo. E se o fizeres, eu não vou compreender. Nunca.

Isto para ti são só caracteres, não é? Se tu ligasses, não matavas à descrição. Este é um esforço inútil não é, Morte traiçoeira de merda? Não vale a pena por-me com floreados e analogias e metáforas do caralho que te foda, porque tu, vezes e vezes sem conta, vais roubar-me até ficar sozinho não vais?

Puta de merda... E o pior de tudo é que não respondes. Não reages. Não nada. É como se não existisses. Até ao dia em que o assalto se dá. E toda a esperança do teu desaparecimento dissolve-se no teu rasto. E a revolta regressa.

Não quero viver para sempre. Mas não quero viver sozinho.

sábado, 1 de outubro de 2011

Culto da personalidade.

Olhas para ele e vês poder,
Sentes os cifrões na pele,
Vês nele o "vai-te foder"
Sempre que precisas de papel.

Não imaginas sequer o tempo
Que aquele manequim levou
Para se poder tornar o exemplo
Da aristocracia que ninguém renovou.

Mas no entanto vives calado,
Com medo da resposta
Que te deixe acabado,
Habituas-te à encosta

Puramente ficcional
Que a ilusão te provoca,
Em vez de fazeres o exercício mental
De tirares o coração da toca

E dizeres, com acções,
Estou farto de ser enrabado,
Estou farto que me capem os culhões,
Estou farto de ser condenado

À falsa iliteracia social,
Eu quero mudar o Mundo,
Eu quero tornar-me o tal,
Eu quero tirar-nos do fundo!

Mas preferes olhar para outros
E resignar-te às suas falhas,
Preferes que vos tratem como potros,
Bebés nascidos ao calhas.

Eu talvez não vá fazer barulho,
Ou festejar as minhas vitórias,
Talvez acabe deitado no entulho
Vendo otários cheios de glórias

Mas na terra focinharei
E a boca ficará aberta
Até poder dizer "a hipocrisia enterrei,
A verdade escrita será a certa."