quinta-feira, 21 de abril de 2011

Monstro.

(Monster, Kanye West)

Olho para todos os lados. O roncar que a minha barriga, invulgarmente activa faz, desperta-me de um sonho acordado. Arreganho os dentes, lambo os beiços, estalo os dedos e começo.

Palavras para um lado, frases para outro. Gritos aqui, lágrimas ali. De forma frenética, todos caem, tal pinos de bowling ao sabor de uma bola invisível lançada pela cadência da minha verborreia.

Começo a sentir todas as células do meu corpo a pedirem mais adrenalina. Respondo à letra, mexendo-me no dobro da velocidade, no dobro da agressividade, no dobro da insanidade.

No fim, a poeira ainda não assentou do meu crescendo vocal em jeito recitado. Mas o meu corpo enche-se do sangue literário das almas que não conseguiram acompanhar os meus cantos.

E é neste cenário de guerra hipotética, de mortos cerebrais e comas culturais que me reconheço e que percebo a carnificina que o meu momento falado criou à minha volta.

Sacudo o choque do meu capuz, retiro o pó da excitação das minhas roupas, ajeito os meus óculos que me mostram a realidade em caracteres e penso para mim próprio:

Tenho que ter cuidado com o que digo, porque sou um Monstro.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Graça.

Sabes como se vê a pequenez da nossa existência? Quando vemos, do alto do trono construído sobre ego e arrogância os outros, que para nós são pequenos e felizes, com auras mais escuras que nós.

Com tanta desgraça que acontece à volta do "nosso" reino, os nossos problemas tornam-se do tamanho do cotão do umbigo. E o mais curioso é saber que a luz produzida pelo acreditar na vitória do dia seguinte paira sobre nós, mas quando tentamos partilhá-la somos chamados de "burlões".

Não deixa de ser engraçado perceber que as formas mais alargadas para falarmos do que nos faz felizes são vistas como "comércio" e não desabafo.
Enfim, umas vezes estou no trono, outra sou visto do alto. Comecei em cima e agora acabo na mais ínfima das humildades. Não quero ser o único a sentir a Graça, pronto.

Perdoem-me se consideraram propaganda o meu suspiro escrito.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Reflexo imperfeito.

A mentira fazia parte do meu ser,
Tinha como objectivo distorcer
Tudo aquilo que eu desejara,
Odiando a sorte que não tivera
De nascer tal qual como sou,
Uma alma cujo corpo nunca amou.

Reflexo imperfeito,
Como me pudeste enganar assim?
O que vi em ti não aceito,
O que me mostras não está em mim.

Gritei socorro, num tom assustado,
Mas o grito saía silenciado,
Abafado pelo medo da ignorância
Que nos olhares, em 1ª instância
A mentira fazia-me ver,
Com receio que eu pudesse deixar de sofrer.

Reflexo imperfeito,
Como me pudeste magoar assim?
Em ti imaginei o meu peito
Rasgado, como se fosse de cetim.

No limiar do desespero, caído no chão,
Senti uma ténue luz no coração.
Fui reerguido pela força da revolta
E posto a flutuar, com a alma solta,
Num antagonismo de estranhar,
Apesar de me ser tão familiar.

Reflexo imperfeito,
Porque continuas a insistir assim?
Já não suspiro no meu leito,
Já não anseio pelo meu fim.

Hoje, sou em tudo diferente,
E mesmo que por momentos tente,
Aquela máscara de uma realidade
Na qual não encontro identidade
Já não me causa temor,
Na essência encontrei o Amor!

Reflexo imperfeito,
Porque me olhas assim?
O que te fiz, já devia ter feito,
Há muito que merecias ter um fim!

(Letra para Artes Performativas)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Dinamite.

Todo o teu suor no meu corpo
Arde sem pedir licença,
Queimando-me do fundo ao topo
Do lugar para onde o teu olhar me lança

Sem contemplações ou maldade,
Onde a tua voz é rainha
E agita os meus sentidos sem piedade.
Cada vez que a tua pele toca na minha,

Desperto do transe induzido
Por esse movimento rítmico
Que me sussurra Vai!, e ali fico,

Com todo o amor traduzido
Correndo pelo meu ser dormente,
Pronto para explodir no coração e na mente.