segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Solidão.

A solidão é um sentimento muito engraçado. Parece-se com as mãos dum ilusionista. O ilusionista não usa luvas, mostra-nos vezes e vezes e vezes e vezes sem conta que não tem segredos nenhuns que possamos ver. Mas quando menos esperamos, algo prodigioso acontece, vindo das profundezas mágicas contidas no estalo de dedos do mágico. Com a solidão é o mesmo. Achamos possível dominá-la, conhecer as suas manhas, saber que ela não passa da insegurança elevada à razão da nossa resignação pessoal. Mas de repente, sem que tivéssemos tido oportunidade de olhar duas vezes, ela estala os dedos e estamos sós. De novo. As vozes de fundo, os corpos ao lado, os objectos mortos, as palavras vazias, os sentimentos que se passeiam sem nos serem direccionados. E aí, ouvimos as palmas. O truque funcionou de novo. Novamente os apertos de mão, os esgares surpreendidos, os votos de companheirismo sóbrio e, portanto, sem sentido. Não estás só. Estás rodeado de amor e carinho. Estás rodeado de tudo aquilo que precisas para ser feliz. Pois. Apenas não percebem que o truque não é esse. O truque é que não sou eu que vêem. Apenas uma miragem, projectada pelo olhar frio e sem remorso da solidão. Eu fico preso, enquanto o truque decorre, dentro das imagens e cores e sons e sabores daquilo a que um dia chamei "amor". O que mais custa no truque é quando saio e vejo que, cá fora, não existe nada. Apenas a solidão, vestida de preconceitos e inseguranças, a olhar fixamente para mim, à espera do segundo em que não consigo esquecer-me de que ela existe. Do segundo em que volto a olhar para as suas mãos. Do segundo em que ouço o estalar de dedos. Do segundo em que me volto a refugiar na dor familiar daquilo que foi o meu sorriso. Do segundo em que o truque acontece.

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