terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Negrume.

Tudo negro. Mas negro como um planeta coberto de fumo. Não é negro como a música feita por milionários depressivos. Nem negro como a tristeza etária. Não. É negro como a ausência de tudo. E isso é o que vejo. Limpo os olhos mais que uma vez. Não, não era fuligem. Não há mesmo nada à minha frente.

Terei ficado cego? Não, não existe nada para eu ver. Terei ficado sem olhos? Não, eles apenas não acham nada para ver. Se calhar são as ligações nervosas. Também não. Não existe nada que possa descodificar, porque não existe nada. E eu?

Se falo sobre isso e penso sobre isso e escrevo sobre isso, logo existo. Mas estou sozinho? Certamente que não. Então o problema é mais negro do que eu julgava.

Procurei dentro de mim. Vi a existência que conhecia, desde sempre, a esconder-se, a saltar precipícios metafóricos, a cortar pulsos inexistentes, a enforcar pescoços literários. E eu?

Eu continuei a ver. Medo? Não, o medo não me aflige. Apenas me sinto deslocado disso. Da dor que causa ver a minha base existencial a desaparecer. A desaparecer no negrume em que se tornou o meu conhecimento.

21 anos. Quase 22. Aprendi, vivi, amei, confiei. Hoje, todos os que me rodeiam põem em questão a minha bagagem. Terei aprendido? Vivido? Amado? Confiado? Sim. Os outros, não sei.

Pai. Pai. Pai. Pai. Pai. Pai. Só tem 3 letras. Mas causa tanta insegurança. Mãe. Mãe. Mãe. Mãe. Só tem 3 letras. E eu não sei o que fazer com elas.

Eu. Já não sei o que sou. Sei que estou triste. Percebo que quero fugir. Mas as palavras já não são o caminho suficiente. Preciso dos vossos braços para chorar.

Mas vocês não os têm disponíveis. Não por não os esticarem, mas porque entendi finalmente o negro. Longe de vocês, vejo tudo.

Só não consigo ver perto de vocês. Vocês amam-me. E eu também. Mas não vos consigo identificar o suficiente para vos dizer e mostrar.

1 comentário:

  1. No meio de tanta escuridão brilha a claridade de um sentimento profundo, mas que, por vezes, tantas vezes, não chega .... dentro desse caos, vai surgir certamente uma estrela ....

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