quinta-feira, 21 de abril de 2011

Monstro.

(Monster, Kanye West)

Olho para todos os lados. O roncar que a minha barriga, invulgarmente activa faz, desperta-me de um sonho acordado. Arreganho os dentes, lambo os beiços, estalo os dedos e começo.

Palavras para um lado, frases para outro. Gritos aqui, lágrimas ali. De forma frenética, todos caem, tal pinos de bowling ao sabor de uma bola invisível lançada pela cadência da minha verborreia.

Começo a sentir todas as células do meu corpo a pedirem mais adrenalina. Respondo à letra, mexendo-me no dobro da velocidade, no dobro da agressividade, no dobro da insanidade.

No fim, a poeira ainda não assentou do meu crescendo vocal em jeito recitado. Mas o meu corpo enche-se do sangue literário das almas que não conseguiram acompanhar os meus cantos.

E é neste cenário de guerra hipotética, de mortos cerebrais e comas culturais que me reconheço e que percebo a carnificina que o meu momento falado criou à minha volta.

Sacudo o choque do meu capuz, retiro o pó da excitação das minhas roupas, ajeito os meus óculos que me mostram a realidade em caracteres e penso para mim próprio:

Tenho que ter cuidado com o que digo, porque sou um Monstro.

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