Basta
um dia mau. Basta a teia que tu construíste durante tanto tempo ser quebrada
num pequeno anel. Basta veres as tuas expectativas e sonhos pisados como uma
poça de chuva. Basta um dia mau. Quando ele chega, por fim, esquece tudo aquilo
a que chamavas borboletas no estômago, calor no peito, secura na garganta. Diz
olá ao riso. Gargalhadas, gargalhadas e mais gargalhadas. Porque tudo não passa
de uma piada, na verdade. De que vale a pena tentares encontrar nas
circunstâncias e no destino justificação para te comportares como uma criança a
quem te tiraram o brinquedo favorito? Vale a pena ficares tão sério por isso?
Porque o teu pai enchia-te a cara de porrada ou de outra coisa? Porque
descobriste que existem mentiras e traições e o Peter Pan não? Porque não
encontras felicidade na máquina de produção em massa a que chamas vida? Porque
descobriste que o príncipe a quem oferecias o teu coração estava à espera que
te oferecesses mais abaixo? Porque não suportas aquilo que vês ao espelho e o
julgamento do teu reflexo? É por isso que estás tão sério? És ridículo. É por
isso que nunca deixarás de ser o húmus que habita no esquecimento colectivo de
quem te conheceu. Porque te bastou um dia mau para colapsares. Porque não és
como eu. Também tive um dia mau, uma vez. Mas só me deu vontade de rir. Porque
é como construíres um castelo de cartas. Levas anos, mas assim que suspiras,
desaparece tudo. E ficas a chorar, pelas tuas cartinhas derrubadas. Agora deves
querer fazer isso mesmo. Chorar pelas tuas cartinhas. Ou então soltares a
frustração de seres tão importante como um grão de areia e bateres-me. Mas não
vale a pena, porque vou continuar a rir-me. Porque tu és uma piada, eu sou uma
piada, tudo não passa de uma grande piada. Quanto mais depressa perceberes
isso, melhor.
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