Não. Era apenas um homem cujo cérebro se tinha ausentado por tempo indefinido do seu crânio. Mas então por onde andava o conhecimento de si próprio? Num céu cor-de-rosa, flutuando entre montanhas de cumes rosas e florestas densas (ou não) com riachos no centro. Entre estas duas paisagens distintas figurava uma planície deserta, onde uma pequena cratera guardava pequenos animais e poeira. Decidiu continuar o caminho atravessando as florestas. Verificou que o riacho no centro desbocava numa imensa cascata, com dois braços rochosos a acompanharem a queda. De repente, sentiu calor. Muito calor mesmo. Tanto calor, que se viu livre das suas roupas, cuja existência lhe era alheia. Infelizmente, o calor piorou até. Finalmente percebeu que tinha mesmo à sua frente uma torrente de água fresca pronta para ser utilizada. Nem pensou duas vezes. Planou o mais rápido que conseguia em direcção à cascata. Mergulhou de cabeça, e o alívio do fresco transportou-o para outro plano. O da inconsciência transcendente, onde apenas se visualiza o nada que todo o ser incorpora.
Entretanto, o nada desvaneceu-se. Quando abriu os olhos, estava completamente nu, deitado numa cama com cheiro a insectos e prostituição. Por baixo de si, encontrava-se uma boa imitação de uma mulher, com algumas picadas de agulha no braço, um maço de notas na cabeceira e um rio de esperma na vagina. Reparou que a foz desse rio era o seu pénis. Foi quando percebeu que não se lembrava de absolutamente nada. Nesse dia, aprendeu uma boa lição. Decidiu nunca mais confundir vodka com água. Tomar comprimidos assim não era tão gratificante como julgara.
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