Não te percebo. Há quem assuma perceber-te e até esperar por ti serenamente. Não acredito nisso. Como é possível querer-se receber em casa, no nosso ambiente familiar, alguém que existe apenas para desconstruir edificações de anos e anos de trabalho emocional? É por isso que o fazes? Por ninguém te querer? É uma conta paga em raiva a que descontas em nós?
Morte, eu odeio-te. Não é a tua existência, mas o que a tua existência cria em mim. Não quero ser egoísta, nem medroso, nem melancólico. Mas os teus roubos deixam-me assim. Se tanto roubas aos outros, porque não experimentas devolver? Fazer o bem, por uma vez na tua vida miserável.
Podes andar atrás de mim o tempo inteiro, podes levar-me quando quiseres, mas pára de roubar-me. Não tenho quem me proteja de ti. Eu imploro-te. Por um segundo, pensa bem antes de me roubar de novo. E se o fizeres, eu não vou compreender. Nunca.
Isto para ti são só caracteres, não é? Se tu ligasses, não matavas à descrição. Este é um esforço inútil não é, Morte traiçoeira de merda? Não vale a pena por-me com floreados e analogias e metáforas do caralho que te foda, porque tu, vezes e vezes sem conta, vais roubar-me até ficar sozinho não vais?
Puta de merda... E o pior de tudo é que não respondes. Não reages. Não nada. É como se não existisses. Até ao dia em que o assalto se dá. E toda a esperança do teu desaparecimento dissolve-se no teu rasto. E a revolta regressa.
Não quero viver para sempre. Mas não quero viver sozinho.
Sem comentários:
Enviar um comentário