Olhando para baixo, solene,
Impávido às desgraças
Daquelas pequenas traças
Que esvoaçam histéricas
Debaixo do seu olhar soturno
Está o rei nocturno,
Envolto na escuridão
Do seu pensamento,
Desprovido de sentimento
E desconhecedor de alma.
Para ele, humanizar
É como desventrar,
E no seu interior
Não cabem órgãos.
Todos os que, sãos
De corpo e de espírito,
Se negam a reconhecer
A maldade no seu entardecer
Mais tarde ou mais cedo
Se vêm isolados,
Na escuridão enforcados
Pelas manhas do rei nocturno.
Na sua montanha luz
É algo que não se produz,
Mas os receosos que,
Ignorantes ou loucos,
Fazem ouvidos moucos
À precaução e tentam
Vencê-lo com armas,
Ódio e karmas
São imediatamente corrompidos,
Tornados insectos escuros,
Grotescos e impuros.
Apesar de tudo,
O rei nocturno
Olha, taciturno,
Para o horizonte.
Sabe que o seu poder
Pode, enfim, desaparecer,
Assim que a alvorada se der,
O Sol à vida regressar
E com luz purificar
Todos os corações
Que como uma tela,
Ficaram com uma mistela
Negra, não por fraqueza,
Mas por obediência
À maldade da sapiência.
(Edvard Grieg, In the hall of the mountain king)
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