segunda-feira, 6 de junho de 2011

Na câmara do rei da montanha.

Olhando para baixo, solene,
Impávido às desgraças
Daquelas pequenas traças

Que esvoaçam histéricas
Debaixo do seu olhar soturno
Está o rei nocturno,

Envolto na escuridão
Do seu pensamento,
Desprovido de sentimento

E desconhecedor de alma.
Para ele, humanizar
É como desventrar,

E no seu interior
Não cabem órgãos.
Todos os que, sãos

De corpo e de espírito,
Se negam a reconhecer
A maldade no seu entardecer

Mais tarde ou mais cedo
Se vêm isolados,
Na escuridão enforcados

Pelas manhas do rei nocturno.
Na sua montanha luz
É algo que não se produz,

Mas os receosos que,
Ignorantes ou loucos,
Fazem ouvidos moucos

À precaução e tentam
Vencê-lo com armas,
Ódio e karmas

São imediatamente corrompidos,
Tornados insectos escuros,
Grotescos e impuros.

Apesar de tudo,
O rei nocturno
Olha, taciturno,

Para o horizonte.
Sabe que o seu poder
Pode, enfim, desaparecer,

Assim que a alvorada se der,
O Sol à vida regressar
E com luz purificar

Todos os corações
Que como uma tela,
Ficaram com uma mistela

Negra, não por fraqueza,
Mas por obediência
À maldade da sapiência.


(Edvard Grieg, In the hall of the mountain king)

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