terça-feira, 31 de janeiro de 2012

3 anos.

Queria tanto ser o homem mais inteligente do mundo. Se o fosse, saberia todas as palavras que existem, todos os verbos que se criaram, todas as frases possíveis. Mas não sou. Existem muitas palavras que eu não conheço, muitos verbos dos quais nunca ouvi falar, nem consigo conjugar todas as frases possíveis.

Mas consigo olhar-te. Consigo tocar-te. Consigo sentir-te. Graças a isso, consigo viver. Graças a isso, a minha incapacidade de ser completa e perfeitamente explícito sobre ti disfarça-se sobre a luz que não paras de derramar na minha alma. Graças a isso, todo o sangue que diariamente derramo pela deterioração da minha infância é guardado dentro do pote onde guardas as minhas mágoas e as substituis pelo teu sorriso e pelo teu aroma.

Não sou o homem mais inteligente do mundo. Nem sei se um dia chegarei a sê-lo. Mas enquanto o nosso amor continuar a ser tão real como a dor da tua ausência, serei sempre o homem mais feliz que poderei ser. E a ti te devo isso. Obrigado Soraia Marques.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Para os meus amigos da outra margem.

É muito fácil escrever. As letras são óptimas para esconder aquilo que o coração nos diz, ou para escarrapachar o que a razão tenta apagar. O melhor de tudo é serem só isso, letras. Toda a repercussão que possa advir da sua utilização é fútil. Todas as letras têm interpretações infinitas. O que ofende um, alegra o outro. Mas nem sempre se pode recorrer à escrita. Pois mesmo que se alargue o máximo possível o texto, um dia ele terá que ser lido ou dito.

Nessa altura, não será fácil falar. Não é o computador, bajulador por natureza, que nos olhará. Quem estará do outro lado são as consequências das nossas letras. E esse é um fardo conhecido por quebrar muitas colunas vertebrais, direitas apenas quando sentadas na cadeira da secretária, em frente ao teclado. Até lá, que continue a saudável argumentação literária.

Porque quando se passar da argumentação para a verbalização, será tudo menos saudável. Porque é impossível escapar aos nossos erros. Porque quando tentamos ser durões a escrever, normalmente somos esmagados quando falamos.

Se um dia falarmos, as consequências serão implacáveis. E não há adjectivos que possam safar. A verdade falará mais alto, pois não existirá papel ou burocracia que a possa enterrar ou alterar.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Gozação com o décimo sétimo algarismo.

Eu e o C.Ronaldo temos muito em comum. Além de sermos portugueses. Bom, se calhar ainda me falta um bocado. Ele é o melhor naquilo que faz. Eu ainda preciso de algum treino para ser o melhor no que faço. No entanto, já consegui por diversas vezes terminar como o elemento mais forte, tal com ele. O problema é mesmo o Barcelona. Se não existisse o Barcelona, seríamos os melhores, sem sombra de dúvidas. Mas graças à sua existência, outros passam-nos à frente com a ajuda de pontes exteriores, de carácter limitado, que apenas aparecem com pedidos externos e dissimulados.

Infelizmente para nós, só podemos contar com o nosso talento. Esse leva-nos até ao topo. Mas não consegue vencer o poder do papel. Esse fala sempre mais alto. Por causa disso, o Real é o 2º melhor e eu também. No fundo, existem ainda poucas coisas que nos relacionam, além dos casos de secretária. Mas existirá sempre algo que nos unirá para o resto das nossas vidas, aconteça o que acontecer.

Ambos perdemos o nosso 17.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Biombo.

Sorri.
Canta.
Assobia.
Pula.
Dança.

A mim não me enganas,
Com as tuas façadas
Mal disfarçadas,
Se é que querias mesmo
Que não se notasse.

A falsidade no sorriso.
O canto sem melodia.
O assobio sem fôlego.
O pulo sem pernas.
A dança sem ritmo.

Encara a escuridão,
Não tentes esconder o olhar
Do monstro que te suga
A felicidade que hoje
Não passa de uma memória.

Em vez de sorrires, range os dentes.
Em vez de cantares, fala.
Em vez de assobiares, respira.
Em vez de pulares, sustém-te.
Em vez de dançares, caminha.

Senão, mais vale chorares
O que te resta do passado
Para que limpes tudo,
Porque o que tu fazes
É o mesmo que morrer.


domingo, 15 de janeiro de 2012

Quero ir embora.

Embora. Ir embora. Gostava de ir embora. Adorava poder pegar em mim e em ti, transportar-nos para outro lado que não isto e ir embora. Desejo ter a força para construir o caminho, para o alcatroar e o direccionar para qualquer lado para ir embora. Quero olhar em todos os eixos cardinais, sem me ofuscar com a luz do Sol que ainda não se levantou, fechar a minha vida na tua mão e ir embora. Imploro por sentir o coração a palpitar todos os dias, com o bater do teu acordar, com o calor do teu olhar matinal que só posso ter quando poder ir embora.

Mas não podemos. Não agora, não já. Mas fica a vontade. A dor da negativa também. O remorso da ida hipotética não desaparecerá. Pelo menos enquanto pensar nisso. Só penso porque sou relembrado todos os dias que ir embora vai custar. A todos, menos a mim. Porque não quero mais ficar. Quero ir embora.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

8 ou 80: 80.

O quarto das emergências,
Cheio de velhos poeirentos.
Ninguém lhes mexia nunca,
Acumulavam solidão nos poros.
E no silêncio a velha gritava:
Ai, alguém que me acuda!

Médicos passeavam e dançavam,
De bloco de notas na mão,
Observavam sem conhecer compaixão,
A dor não era com eles, eles eram a cura.
E no silêncio a velha gritava:
Ai, alguém que me acuda!

As enfermeiras, de coração mole,
Entristeciam-se de todas as vezes
Com os velhos, mais pela sua ineficácia
Do que pelo abandono que viam.
E no silêncio a velha gritava:
Ai, alguém que me acuda!

Uma das abandonadas tentou
Utilizar o que um dia foi vida
Para sair daquele tormento solitário.
Mas logo a travaram, era hora do jantar.
E no silêncio a velha gritava:
Ai, alguém que me acuda!

Um homem apercebeu-se de que
A sua alma o tentava abandonar.
Então contorceu-se para impedir a fuga.
Felizmente que os médicos o ajudaram logo.
E na barafunda, a velha gritava:
Ai, alguém que me acuda!

Com a alma presa e drogada,
Pôde o coração roncar com tranquilidade.
A velha, que gritava, remexeu-se
Na sua maca suja de dor surda.
E no silêncio, sussurrou ao homem:
Não te atrevas a adormecer.

Enfim, eu estava tratado.
Emergência de uma indisposição.
Levantei-me, acompanhado,
Olhando sempre para o chão.
Não consegui olhar para a velha, calada, que me dizia:
Ai, alguém que me acuda!

Saí dali, e depressa esqueci tudo.
Os velhos abandonados, o homem
Ás portas da morte, a velha
Que gritava. Nunca soube se a acudiram.
Nunca tentei saber o que se passava.
Aposto que não fui o único.