segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Médio Oriente.

São caladas à chapada
Com os anéis de ouro pagos
Com o seu suor escravo
E nem sequer questionam.

Pregadas à paulada
Por terem olhado com esperança
De um dia puderem caminhar
Como um ser humano.

Ficam caladas, com lágrimas
Presas no coração, em carne viva
Por tantas vezes receber o sal
Do silêncio socialmente estabelecido.

Olham para o céu, resignadas,
Como se o Sol as castigasse
Por terem sequer ousado
Serem mais do que objectos.

Por fim percebo e faz sentido.
Como posso esperar que se revoltem,
Se os animais não falam, grunhem,
E elas estão abaixo deles?

Só posso esperar um corpo negro
De porrada e humilhação,
E uma esperança perdida
No último suspiro livre.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vingador.

Escondendo as cicatrizes numa ligadura
Sem sentimentos, disfarçando a dor,
Desvia ele o olhar da mãe, com secura,
Ignorando a aura dela, de terror,
Responde-lhe, sem qualquer brandura,
Não te preocupes mãe, eu sou um vingador.

Caminhando pela rua, destemido,
É acompanhado por um leve rumor
Que oferece ao movimento sentido.
Movimento esse, com mais e mais clamor,
Irrompe no fim, com grande alarido,
Vai ali o nosso salvador!

Desembainhando a espada, de punho vermelho,
Aponta a lâmina, com coragem, ao orador,
De madeixas brancas, não diz alho nem bugalho,
Sua de pânico, com as mentiras causando-lhe ardor,
Grita, com a Morte presente no olho,
Apanhem-me depressa este traidor!

O sangue do seu corpo no jardim jorrava,
Nos ouvidos, um ruído silenciador.
Os que sonhavam, diluíram-se como chuva,
Menos uma menina, que com um olhar enternecedor,
Perguntou quem era aquele morto na erva.
Não ligues pequena, é só mais um sofredor.